O senador José Agripino, exímio craque na arte da oratória, sempre acostumado a usar a retórica em seu favor, se viu diante da falta de justificativa consistente para argumentar que marcava sua gestão como presidente do DEM, com um gesto histórico de traição a sua única governadora. Falou que a derrota de Rosalba representava a sobrevivência do partido. Ou seja: no momento de crise, mais vale a sobrevivência do mandato do que a dignidade do gesto de solidariedade.
A governadora Rosalba Ciarlini perdeu a força política a partir do gesto de traição de Agripino. Para se aliar aos tradicionais adversários, estes pediram-lhe a cabeça de sua única governadora. Ao invés de lutar com dignidade pela sobrevivência de todos, ele escolheu quem deveria morrer para atender aos adversários. Travestiu-se de Francesco Schettino, comandante do navio Costa Concórdia, que abandonou à própria sorte seus comandados, em nome de sua sobrevivência. Mácula indelével para sua história.
Apesar de usar a desfaçatez para simular que estava preocupado com os demais candidatos a deputado do DEM, o senador José Agripino foi movido por uma força ilimitada que sugou até seus raros sentimentos de amizade. Essa força chama-se amor de pai. Como político, ele maculou sua biografia com um gesto de traição. Como pai, não pode ser condenado por tentar salvar o filho da derrota.