Pivô da crise que atingiu o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz foi o responsável pela nomeação de pelo menos sete funcionários do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio.
A influência de Queiroz beneficiou a própria família e ajudou a estabelecer ligações com o entorno do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega — seu amigo dos tempos de 18º BPM, conforme admitiu nesta semana.
Adriano é apontado pelo MP como líder do grupo paramilitar que controla a comunidade de Rio das Pedras e principal articulador do Escritório do Crime, que reúne matadores de aluguel. Ele foi um dos alvos da Operação Os Intocáveis, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP e pela Polícia Civil, e encontra-se foragido.
A primeira nomeação na conta do ex-assessor, que atuava como motorista e segurança de Flávio Bolsonaro, foi a de Márcio da Silva Gerbatim, em maio de 2007 — menos de dois meses depois da chegada de Queiroz à equipe de Flávio. Márcio é ex-marido da atual mulher de Queiroz, Marcia Aguiar, também indicada por ele para o gabinete.
Apadrinhados
Em setembro de 2007, Queiroz emplacou mais dois nomes na Alerj. No dia 6, Danielle Mendonça da Costa Nóbrega, mulher de Adriano, passou a trabalhar no gabinete de Flávio. Raimunda Veras Magalhães, mãe de Adriano, também ocupou cargos ligados a Flávio entre março de 2015 e novembro do ano passado. Antes de ir para o gabinete do senador eleito, Raimunda esteve lotada na liderança do PP — partido do senador eleito naquele momento.
Em 20 de setembro de 2007, foi a vez de Nathália Melo de Queiroz, filha do ex-assessor, que ocupou inicialmente um posto na liderança do PP.
Nathália passou por vários cargos até deixar a Alerj em dezembro de 2016 — abandonando uma função no gabinete de Flávio para assumir um lugar na equipe de Jair Bolsonaro, na Câmara dos Deputados. Em seu lugar, Queiroz indicou sua outra filha, Evelyn Melo de Queiroz, para o mesmo cargo.
Na retaguarda
O ex-assessor ainda conseguiu espaço para a enteada, Evelyn Mayara de Aguiar Gerbatim, nomeada em agosto de 2017. Ela permanece no cargo até hoje.
Se demonstrava poder na montagem do gabinete, Queiroz era discreto da porta para fora. No dia a dia da Alerj, não costumava acompanhar Flávio em reuniões e não frequentava o plenário — onde ocorrem as votações da Casa.
Sua presença, porém, era notada fora da Alerj, onde sempre estava perto de Flávio. O ex-assessor chegou a impedir um assalto na porta da Assembleia.
— Há cerca de um ano, o Flávio estava chegando à Alerj e um sujeito assaltou uma mulher na Rua da Assembleia. O Queiroz saltou do carro e correu atrás do assaltante. Tiros foram disparados, e o cara foi detido. Não sei se foi o Queiroz que atirou — lembra um deputado.
Queiroz era presença constante entre a sede da Alerj e o prédio anexo, nos fundos, onde ficam os gabinetes dos parlamentares. Segundo uma funcionária da casa, ele costumava aguardar a saída do chefe.
— Estava sempre ali por baixo. Ficava perto do Flávio quando ele entrava ou saía da Assembleia —afirma uma funcionária da Alerj.
Um assessor parlamentar lembra de ver Queiroz na agência do banco Itaú na Alerj — onde parte significativa de sua movimentação flagrada pelo Coaf foi feita. No mesmo local foram feitos os 48 depósitos de R$ 2 mil na conta de Flávio Bolsonaro.
— Fiquei na fila do caixa e ele estava do lado conversando com os seguranças, demonstrando intimidade —conta o funcionário.
O GLOBO