O presidente eleito ainda não assumiu o cargo, mas a bancada evangélica já demonstra insatisfação pública após a formação do governo Bolsonaro.
O estopim ocorreu depois que o nome de Osmar Terra (MDB), ex-ministro de Michel Temer, foi anunciado pelo presidente eleito para comandar o Ministério da Cidadania, pasta que reunirá os ministérios dos Direitos Humanos e do Desenvolvimento Social.
Apesar de dizer que se manterá fiel a Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia, entusiasta do nome de Magno Malta (PR), criticou a escolha de Osmar Terra e cobrou Bolsonaro: “Quem é Osmar Terra comparado ao Magno Malta?”, questionou.
“A única pessoa que pode responder por que o Magno Malta não foi confirmado é o próprio presidente. Para mim, Bolsonaro disse três vezes que estava pensando em colocar o Magno no Ministério da Cidadania. Apoio integralmente o Bolsonaro, mas não vou concordar 100% com as ações dele. A unanimidade é burra”, continuou o pastor.
Um dos líderes da bancada evangélica no Congresso, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) também se manifestou. Sóstenes lembra que foi Bolsonaro quem pediu para a bancada evangélica indicar um nome para o Ministério da Cidadania.
“Quem pediu foi o próprio presidente Jair Boslonaro. Então ele é quem tem que explicar como é que ele pede nome e decide por outro, quais foram os critérios que ele usou e decidiu sem comunicar ninguém. Aí é com ele”, reclamou Sóstenes, que fez uma cobrança. “Para a gente [deputados], ele vai ter que explicar na hora dos votos [para projetos de interesse do governo no Congresso] no ano que vem”, ameaçou.
Os evangélicos haviam sugerido os deputados Marco Feliciano (Podemos-SP), Ronaldo Nogueira (PTB-RS) e Gilberto Nascimento (PSC-SP). Os evangélicos deverão somar, ao lado das frentes agropecuária e da segurança — as chamadas bancadas ruralista e da bala –, cerca de 300 integrantes da Câmara na próxima legislatura.
“Marmita”
Praticamente fora do futuro governo, Magno Malta saiu de Brasília nesta segunda-feira (28) sem esperanças, dizendo-se “magoado e machucado” e afirmando que iria refugiar-se em seu sítio nos próximos dias.
O senador reclamava de estar entre os últimos da fila com chances de serem convocados. “Vou receber a marmita?”, questionou. Malta acusa os filhos de Bolsonaro e o general Hamilton Mourão pelo veto ao seu nome.
A lista de “abandonados” inclui, além de Magno Malta, os deputados Fernando Francischini, Alberto Fraga (ambos da bancada da bala) e Pauderney Avelino.
‘Ex-vice dos sonhos’
Ainda na pré-campanha eleitoral de 2018, Magno Malta era tratado como “vice dos sonhos” por Bolsonaro. Candidato por um partido nanico, sem tempo de TV e sem apoio de partidos, o agora presidente eleito era considerado um investimento de risco.
Malta não apenas recusou compor a chapa de Bolsonaro como divulgou sua decisão a evangélicos antes mesmo de avisar o presidente eleito (
relembre aqui).
Abertas as urnas, Bolsonaro saiu eleito e Malta
derrotado para o Senado no Espírito Santo. Segundo aliados do presidente eleito, o senador passou então a cobrar ostensivamente um lugar na equipe, como se tivesse alguma fatura a ser cobrada de Bolsonaro.
Pragmatismo Político